sábado, 26 de julho de 2008

Viagra na feira?

Colunista recomenda cautela com notícia de que a melancia teria um composto que estimula a ereção



A sabedoria popular, muitas vezes, é a fonte em que a ciência vai buscar inspiração para algumas de suas maiores descobertas. A análise de compostos químicos utilizados tradicionalmente pela população para a cura de diversos males direciona o trabalho dos cientistas e evita gastos desnecessários com uma busca cega por substâncias farmacologicamente ativas. Os resultados dessa procura dos cientistas, contudo, são freqüentemente divulgados pela imprensa com certa precipitação, na forma de notícias que louvam as maravilhas curativas de alimentos e bebidas empregados comumente em nosso dia-a-dia.
Compostos químicos utilizados por populações tradicionais contra diversos males às vezes têm seu efeito comprovado pela ciência e dão origem a medicamentos. Será o caso desse suposto "Viagra natural" vendido em uma banca de beira de estrada na Turquia?

Essas reportagens criam grande expectativa na população e estimulam o consumo desses produtos, o que ocasiona o aumento de seu preço, até que um novo item seja eleito como a solução para a nossa saúde. Mas como um leigo que não está afeito às descobertas científicas e aos caminhos (e descaminhos) da ciência pode distinguir entre modismos e resultados científicos realmente comprovados? Um exemplo típico dessa tendência foi o relato, veiculado recentemente na imprensa, de que o consumo de melancia pode render resultados similares à utilização do citrato de sildenafil, medicamento conhecido pelo seu nome comercial de Viagra e utilizado para combater a impotência sexual masculina. O Viagra é um dos medicamentos mais conhecidos de todos os tempos. Estima-se que quase 300 milhões desses comprimidos azuis sejam consumidos por ano em todo o mundo, o equivalente a nove por segundo! Essa droga age de forma a permitir que homens com disfunção erétil, quando estimulados sexualmente, obtenham uma ereção graças ao aumento do fluxo sangüíneo no pênis.
Óxido nítrico e ereção
A fisiologia da ereção está relacionada com o sistema nervoso parassimpático por meio da liberação no corpo cavernoso peniano de óxido nítrico (NO), composto químico relacionado com a sinalização celular em diversos processos fisiológicos e patológicos. A produção de níveis adequados de NO protege os nossos órgãos, mas quantidades elevadas podem causar intoxicação e contribuir para o colapso dos vasos sangüíneos e choque séptico. A expressão crônica de NO, por sua vez, está associada com câncer e com doenças inflamatórias como diabetes juvenil, esclerose múltipla, artrite e colite ulcerativa. O mecanismo de ação do NO para provocar a ereção já está praticamente elucidado pela ciência. Após um estímulo sexual, os axônios dos nervos parassimpáticos liberam esse composto, que se difunde pelas células de músculo liso ao redor dos corpos cavernosos no pênis. Nesse tecido, o NO se associa com os receptores de guanilato ciclase, uma enzima que catalisa a degradação do trifosfato de guanosina (GTP), molécula associada com a síntese de RNA. A degradação de GTP ocorre por meio da produção de monosfosfato de guanosina (GMPc), que será posteriormente também eliminado em decorrência da ação de outra enzima conhecida como PDE5 – sigla para fosfodiesterase tipo 5 específica para o GMPc.
Produzido pela Pfizer, o Viagra é um dos mais conhecidos medicamentos de todos os tempos. Estima-se que quase 300 milhões desses comprimidos sejam consumidos por ano em todo o mundo. Aumentos nos níveis de guanilato ciclase induzem a musculatura lisa do corpo cavernoso peniano ao relaxamento por meio de uma vasodilatação local, o que leva a um influxo maior de sangue. É esse aumento do volume de sangue no pênis que promove a ereção. Como age o Viagra Para intensificar o fluxo sangüíneo peniano, uma droga deve ser capaz de aumentar a quantidade de óxido nítrico nessa região ou, alternativamente, de elevar a quantidade de GMPc produzida no pênis em resposta ao NO ou de eliminar o PDE no pênis para que os níveis de GMPc aumentem. O Viagra se utiliza desse último mecanismo. Como sua estrutura molecular é similar à do GMPc, essa droga é capaz de inibir a ligação da PDE5 com o GMPc (inibição competitiva) no corpo cavernoso peniano. Quanto maior for a quantidade de GMPc, maior será o fluxo de sangue e, conseqüentemente, maior será o grau da ereção. Após a ingestão, a droga permanece na corrente sangüínea por aproximadamente quatro horas, sendo então eliminada pelo fígado e pelos rins. Contudo, sem o estímulo sexual, não ocorre a ativação do sistema NO/GMPc e, assim, o Viagra não age de forma eficiente. O sucesso desse medicamento se deve a uma característica peculiar das enzimas do grupo PDE. O corpo humano produz pelo menos 11 tipos diferentes dessa molécula, mas apenas a PDE5 ocorre no pênis. Essa especificidade permite que a droga aja de forma eficiente, pois evita a ocorrência de efeitos em outros locais do organismo. Entretanto, como qualquer medicamento, o Viagra possui efeitos colaterais, que vão de dores de cabeça até reações mais graves, como ataques cardíacos – uma das razões pelas quais essa droga só deve ser consumida com prescrição médica.
Melancia e Viagra

A casca da melancia é rica em citrulina, composto que é transformado em um precursor do óxido nítrico, fundamental na fisiologia da ereção. Mas o que a melancia tem a ver com essa história? Nessa fruta é encontrado um composto chamado citrulina, que é transformado por enzimas em arginina. Esse aminoácido beneficia o coração, o sistema circulatório e a defesa imune e é um precursor do NO. Antes que se inicie uma corrida desenfreada às feiras e varejões, os especialistas recomendam cautela. A pesquisadora Penelope Perkins-Veazie, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, lembra que seria necessário cerca de um litro e meio de melancia para se obter citrulina suficiente para aumentar os níveis de arginina no corpo. Além disso, deve ser notado que a maior concentração da citrulina (60%) está na casca da melancia, o que talvez não agrade muito ao paladar da maioria. Esse composto pode ser encontrado também em outros alimentos, como pepino e nozes. Deve ser ressaltado que ele não está sozinho na lista de componentes naturais estudados para o tratamento de disfunção erétil e que as pesquisas sobre esse tema ainda não foram capazes de revelar um composto que seja eficiente em todas as situações sem causar efeitos adversos. Devemos, portanto, aguçar nosso senso crítico diante de reportagens sobre algum composto que seja a solução para alguma doença ou que beneficie a nossa saúde com seu simples consumo isolado. Infelizmente, elixires milagrosos como os alardeados pela imprensa nunca existiram ou vão existir. Apenas a adoção de hábitos saudáveis aumentará nossa chance de termos uma vida longa e saudável.
Jerry Carvalho Borges Universidade do Estado de Minas Gerais
Antônio Carlos Borges Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (doutorando) 25/07/2008

Um comentário:

Anônimo disse...

amoreee
passa no meu blog e ve se comenta láa
hihihi

bjim flor
amo-te